quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Revirando uns textos antigos, achei esse daqui que escrevi aos 13 anos. É comprido e romântico, mas acho que se considerar que escrevi há tanto tempo, até que dá pra ler.

Há cinco anos não via Thiago. Aquele encontro poderia mudar nossas vidas, mas eu ainda não tinha certeza de que deveria ir. Pensava naquilo 24 horas por dia e, a cada pensamento, vinham-me mais e mais dúvidas.
Foi numa tarde cinzenta e fria que tivemos de nos despedir. Sem mais, nem menos, apenas por razões do destino.
Conheci Thiago no dia 10 de outubro de 1987, num baile da escola. Ele era amigo da prima da minha amiga, e não sei como, muito menos por que, ele estava lá. Apresentaram-nos e logo de cara senti meu coração bater mais rápido. Foi uma sensação inexplicável, parecia que eu já sabia que ele seria o homem da minha vida.
Nessa mesma festa, ele me chamou para dançar. Dançamos e, como não podia deixar de ser, nos beijamos pela primeira vez.
Começamos a namorar uns quatro dias após o baile. Foram sete anos de namoro, com certeza os melhores da minha vida. Além de um namoro, tínhamos uma amizade linda, onde não faltavam honestidade e respeito. Mas, como a vida nos prega peças, ele teve de ir morar na Austrália e, obviamente, tivemos de terminar.
Só eu sei o quanto sofri no começo. Chorava todos os dias, não saía mais de casa. Era uma saudade que doía, dava um aperto no coração e me fazia um mal incomparável. Eu, com vinte e um anos, estava apenas vendo a vida passar.
Até que, depois de algum tempo, resolvi voltar a viver. Joguei todas aquelas tranqueiras de namorado fora, tais como fotos, cartas e presentes. Liguei para alguns velhos amigos e, aos poucos, fui voltando ao normal.
Fiz novas amizades, reencontrei antigas. Mas eu sabia que era impossível esquecer Thiago. Fazia cinco anos que eu não tinha notícias dele, não sabia nem ao menos se estava vivo.
E foi quando, numa noite de tédio, eu estava pulando os canais da televisão um a um e ouvi uma coisa que prendeu minha atenção...
- Quem é Thiago Devecki e, por que, quando a noite acabar, vocês vão se interessar por ele?
Fiquei paralisada. Não sabia o que fazer, a não ser olhar para aquela imagem, lembrar daquele nome e chorar. Não acreditava que era o Thiago, aquele mesmo Thiago Devecki que me fez a mulher mais feliz do mundo por sete anos.
Ele estava muito magro, careca. Não parecia ele. Só tive certeza pela calmaria da voz, o que era inconfundível. Eu não pensava em outra coisa, agora que sabia que ele estava no Brasil, pela gravação do programa, eu precisava encontrá-lo de qualquer maneira. Mas tinha receios: e se ele não me reconhecesse? Por que voltou do nada? Por que estava tão magro?
Procurei saber onde ele estava e, depois de muita dúvida se deveria ir ou não, acabei me rendendo, como era de costume.
Em 15 de janeiro de 1999 o reencontrei depois de cinco anos sem notícias. Parei meu carro do outro lado da rua e fui caminhando até a casa dele. Toquei a campainha. Uma mulher com roupa de enfermeira me atendeu.
- É aqui que mora o Thiago Devecki? – Perguntei, com medo da resposta.
- É sim, mas ele não está disposto a ver ninguém. Gostaria de deixar um recado?
- Sem querer incomodar, mas você poderia dizer a ele apenas que Luísa D’arcangelo está aqui?
- Espere um minuto, vou ver se ele pode atender.
Aqueles minutos me pareceram horas. Ele demorou para ir à porta, mas de repente, numa cadeira de rodas, saiu um homem chorando.
- Thiago?
- Luísa!
Começamos a chorar. Há cinco anos eu não ouvia aquela voz. Dei-lhe finalmente um grande abraço. O abraço esperado por todas as manhãs.
Percebi que ele estava doente e, para minha infelicidade, parecia ser muito sério.
Conversamos durante o resto do dia sobre todos os assuntos. Disse à ele sobre a falta que me fizera e sobre como, depois de um tempo, consegui me achar lembrando de tudo que ele me ensinara naqueles sete anos.
Perguntei o porque de ter voltado, e foi então que recebi a notícia de que ele estava com uma doença terminal, onde ia perdendo os movimentos do corpo e seus dias estavam contados. Havia voltado para se despedir.
Aquilo ficou na minha cabeça. Agora eu entendo porque aquele entrevistador falou aquilo na televisão.
Será que eu merecia mesmo alguém assim?
Encontramo-nos mais 13 vezes, e a cada dia ele me ensinava mais. Já estava fraco, não conseguia mais mastigar, nem mover os braços. Estava totalmente dependente.
E foi aí que, no nosso décimo terceiro encontro, ele disse que independente de onde estivesse, seu coração estaria comigo, e faleceu na manhã seguinte.
Chorei, chorei, e chorei ainda mais ao lembrar que tinha jogado fora tudo que pudesse me fazer lembrar dele.
Foi um homem que me ajudou de todas as maneiras que se pode ajudar alguém, e nem uma pequena fotografia nossa havia restado.
É incrível como alguém consegue transformar a vida de outra pessoa dessa forma, e se tornar cada dia mais especial. Pena que essas mesmas pessoas têm de ir embora cedo, só por serem boas e viverem num mundo tão injusto.

Um comentário:

Bruno Guerrero disse...

Muito bom. Luísa fez a coisa certa, na minha opinião. Apesar do medo que a gente tem, acho que é o que todo mundo busca quase sempre: uma mudança na vida. Às vezes, nem pensando o que vai acontecer, só para gerar uma revolução pessoal mesmo.

O engraçado é que ontem eu também achei um texto antigo que nem lembrava ter escrito. Mudei algumas coisas e adicionei outras, dei uma cara mais atual pra ele e postei no blog. Coicidência, né?

Continua escrevendo! Bom ler teus escritos.
Beijo